Vem.ser.dor

Saudações nordestinas de mais um alguém que trocou a terra boa pela terra da garoa e vive agora dentro da música do Zeca Baleiro, porque eu estou sempre me sentido só, sozinha. Se é verdade que quanto maior a dor, mais bonito o texto, este, meus caros, há de ser o mister literatura desse blog. Sofri de amor, relatei aqui as histórias de minhas paixões e desencontros, de histórias de barcos furados, de relacionamentos findos antes mesmo de ter um meio, foram - ainda que superficiais, as emoções que vivi. Mas agora é diferente, porque hoje, agora, aqui, a dor que eu sinto não pode ser preenchida, porque simplesmente não tem ninguém por perto. É uma dor estranha, nunca sentida, já senti a dor da falta e da perda, mas agora... é a dor da saudade - não a simples, aquele caso mais grave que não dá pra matar. Quem dera ver um rosto conhecido, um sorriso cortês, um ligeiro aceno de cabeça na rua de alguém que não conheço, mas já vi, e se já estou sonhando, porque não dizer: quem dera sentir o toque, o abraço de um amigo, a longa conversa despretensiosa, a piada nas entrelinhas, o tumulto dos almoços de domingo em família, o beijo na testa antes do sono, o companheirismo de não fazer nada junto, porque não fazer nada sozinha é deprimente. Passo horas do meu dia, muitas delas, com a cara nos livros. Tanto tempo que atendi o telefonema de minha mãe e me assustei com o som da minha voz, já fazia quanto tempo desde que eu tinha aberto o livro? Tanto tempo que me angustia pensar: e se eu não entender mais as piadas quando voltar? eu vou voltar? eu quero ficar? Mas me ocorre que eu preciso ficar. De início, achei que deveria vir por motivos obviamente profissionais, o que está começando a ficar duvidoso. Agora eu não pergunto por que, porque sei que a resposta mais aceitável é um simples porque sim! eu tinha que vir, mas nada impede que em uma mudança de planos eu me questione: por qual motivo? 

Por qual motivo?