O fim, parte 20

Não adianta, todo dezembro é a mesma coisa. Você deita, e o ano simplesmente passa como um slide de momentos diante dos seus olhos, uma retrospectiva particular onde a ênfase geralmente está no que mais ocupou tempo e sentimento, e mais um ano somos obrigados a ouvir os clichês de “chega ao fim mais um ciclo”, “hoje é um novo dia, de um novo tempo… todos os nossos sonhos serão verdade… o futuro já começou…”, todas aquelas músicas de sempre e tudo o mais.

Droga, ter que começar outra rotina, com outras tarefas. Ou, graças! outras rotinas, outras tarefas. Não sei bem ainda, a certeza é só que vou sentir falta dos compromissos acadêmicos. Não tem mais provas, trabalhos, seminários para me tirar o juízo, professor para eu praguejar! E agora? O que eu faço para passar tanto tempo comigo mesma?

Ora, é natal, o ano novo está prestes a nascer, mas você sabe, há uma certa melancolia pairando no ar bem na hora das festividades, nem só melancolia: nostalgia, vontade e mais um horror de coisas que quase fazem a festa virar mesmo um horror. Até gosto do natal, das luzes, da árvore, de presentear, nossa… todo mundo é todo amor, me sinto grata no natal. A revolta tem dia certo pra chegar, e o dia é 31 do último mês, eu reclamo, questiono, me afasto, deveria ser ano novo mas nada novo acontece, novo porque? pra que?

Neste longo e quase interminável 2010 eu conclui minhas disciplinas da universidade, fiz passar a dor de muita gente aplicando medicamento, casei amigos, me afastei, voltei, chorei, ri, viajei, abri a geladeira umas 800 vezes, peguei quase 400 ônibus e fui ao banheiro umas duas mil vezes. Briguei com meus professores, fiquei amiga dos meus professores, me aproximei ainda mais das minhas amigas de faculdade que no novo ano eu não vou ver, namorei um homossexual, me apaixonei por outro que era homem de mais para uma mulher só, usei óculos, tirei o aparelho dos dentes, fiz milhares de ligações, recebi mensagens, flores e presentes enviados de São Paulo.

Parece muito não é? Mas eu ainda comerei mais um ano das pessoas que eu amo, minha irmã noivou, minha mãe passou a ter dois empregos, meu pai só um, nos endividamos, ganhamos dinheiro extra, enviei uns 900 emails, fui à almoços, torci pelo Brasil na copa, assisti reportagens que eu apostava com minha irmã que iam para a retrospectiva como os desmoronamentos no Rio, o polvo da copa e o caso do goleiro Bruno, retomei a iniciativa de escrever no blog, vi o fluminense ser campeão e não influenciar nada na minha vida, viciei no twitter, abandonei o orkut. Enfim, acontecem milhares de coisas em 365 dias.

E ao fim deste ciclo tricentésimo, no tédio e provavelmente solidão do dia 31, eu estarei lá, olhando para o céu, para a melhor parte de comemorar o encerramento e as boas vindas ao mesmo tempo, as luzes coloridas, o espetáculo de cores ao fundo de um céu escuro, tenho certeza, vou estar emocionada, não triste, nem alegre, mas vou sentir intensamente que 2010 se encerra como deveria, afinal preciso acreditar que Deus tem o melhor para mim ao tempo dEle. Toda música, todo momento, toda conversa, todo abraço, todo email, toda imagem de webcam, toda voz amiga vai estar se desenhando no céu do dia 31. Atitudes que não tomei, iniciativas que não tive, livros que não li, dias de sol que desprezei, abraços que neguei, pessoas que eu não ajudei, tudo e todos… ainda não é o fim, aliás, até é, mas eu já passei por 20 finais, no texto “o fim – parte 21″ vocês não se incluirão na parte do que eu deixei de fazer.

Um ótimo natal, um ano novo cheio de coisas que você não quer esquecer.

Obrigada pela companhia de um ano inteiro, pela leitura dos desabafos, pela compreensão dos sentimentos expostos, e pela paciência das semanas de prova e fim de semestre, em 2011 tem mais!

Super abraço!

Stephany Costa.